Depressão pós parto

A gestação e o puerpério (pós-parto) são períodos de vida que precisam ser observados com especial atenção, pois envolvem inúmeras alterações físicas, hormonais, psíquicas e de inserção social, que podem refletir diretamente na saúde mental das mulheres.

Os fatores de risco principais relacionados a sintomas depressivos no puerpério são: idade inferior a dezesseis anos, história de transtorno psiquiátrico prévio, eventos estressantes experimentados no último ano, conflitos conjugais, ser solteira ou divorciada, desemprego (da mulher ou de seu cônjuge) e apresentar pouco suporte social, personalidade desorganizada, esperar um bebê do sexo oposto ao desejado e apresentar poucas relações afetivas satisfatórias.

 

Na gestação, os níveis de estrógeno e progesterona estão bastante elevados em comparação com outros períodos do ciclo reprodutivo feminino. Estudos mais aprofundados ainda estão sendo desenvolvidos, porém, acredita-se que esse fator pode estar envolvido nas alterações do humor que ocorrem nessa fase. A queda brusca desses hormônios no pós-parto estaria envolvida na etiologia da depressão puerperal.

O sintomas de depressão costumam acometer as mulheres nos primeiros dias após o nascimento do bebê, atingindo um pico no quarto ou quinto dia após o parto. Entre as alterações estão: choro fácil, oscilações de humor, irritabilidade e comportamento hostil para com familiares e acompanhantes, preocupação excessiva com o bebê ou ainda vontade de deixá-lo de negligenciá-lo.

Os sinais e sintomas de Depressão pós parto são muito parecidos com aqueles característicos do Transtorno Depressivo Maior que acomete mulheres em outras épocas da vida. Essas mulheres apresentam humor deprimido, choro fácil, oscilação afetiva, irritabilidade, perda de interesse pelas atividades habituais, sentimentos de culpa e prejudicada capacidade de concentração, distúrbios do sono e apetite são descritos com frequência. Além disso, é freqüente o relato de sentimentos ambivalentes acerca do bebê e de opressão pela responsabilidade de cuidar dos filhos.

É importante ressaltar que alguns desconfortos físicos comumente relatados em casos depressivos, estão presentes no pós-parto por questões recorrentes à grande maioria das parturientes, como dificuldades em manter o sono estável (há na casa agora uma criança totalmente dependente de cuidados), aumento de apetite (a amamentação traz consigo grande necessidade de nutrientes), cansaço, diminuição do desejo sexual e queixas de dores e desconfortos (naturais da recuperação puerperal).

Temos visto que algumas mulheres com depressão pós parto têm bastante dificuldade em revelar seus sintomas com receio de possível estigmatização. As mulheres costumam sentir que as expectativas sociais são de que elas estejam satisfeitas e felizes, com isso, acabam se sentindo culpadas por estarem experimentando sintomas depressivos num momento que, segundo familiares e amigos “deveria ser de alegria”.

Mulheres no período pós parto são examinadas por seus obstetras ou clínicos gerais em consultas focadas na recuperação física após o parto. Além disso, são vistas pelos pediatras de seus filhos de quatro a seis vezes durante o ano seguinte ao nascimento de seu bebê. Estes profissionais precisam estar atentos para indicar outras especialidades ao detectarem a presença dos sintomas depressivos. Existem atualmente escalas avaliativas e de medida dos sintomas de depressão (Edinburgh Postnatal Depression Scale - EPDS, criada em 1987; e Postpartum Depression Screening Scale –PDSS, criada em 2000), o que, quando aplicadas pelo médico, o auxilia a detectar a necessidade de outros tratamentos. As escalas servem para alertar clínicos, obstetras e pediatras para aqueles casos que precisam de avaliação mais aprofundada e, possivelmente, tratamento específico.

Tratamento psicológico para depressão pós parto

Mulheres com Depressão pós parto apresentam relatos de pensamentos e sentimentos que as deixam com humor alterado, refletindo-se diretamente em sua vida e na daqueles que as rodeiam. Esses pensamentos denominados automáticos são o cerne da Terapia Cognitivo Comportamental. A mudança desses pensamentos, muitas vezes distorcidos da realidade, faz com que a paciente com Depressão pós parto passe a reavaliar sua condição e reestruturar seu cotidiano.

As mulheres que apresentam Depressão pós parto, sofrem com pensamentos e sentimentos relacionados com os cuidados do bebê; sua nova condição, de mãe, ou mãe de mais uma criança; insegurança quanto a poder contar com ajuda, seja da sua rede social, seja do cônjuge; conflito entre a dedicação pessoal e profissional; autocobrança em atender a expectativas familiares; insatisfação quanto ao seu corpo que mudou e está mudando; preocupação sobre como esse novo membro irá se integrar e o papel dela nesse processo; dúvidas sobre postura educativa, sobre até que ponto restringir as vontades...

Muitas vezes a terapia para depressão pós parto tem sucesso por si só, em outras, alia-se a tratamento medicamentoso. O mais importante é que a mulher que sofre esteja atenta e informada, que possa recorrer a tratamento mesmo quando a vontade de sair é mínima. O cônjuge, os familiares e os amigos desempenham papel muitas vezes decisivo, quando incentivam e apoiam, por isso, eles também devem se informar e se manifestar, demonstrando interesse e mesmo as acompanhando até chegarem aos profissionais que irão lhes auxiliar.

 Autora: Carine Campos

 

 Carine Campos
CRP 12/10.960
Psicoterapia Cognitivo Comportamental
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